A segunda parada dos símbolos da Jornada Mundial da
Juventude (JMJ) na capital do Mato Grosso foi no Centro Socioeducativo de
Cuiabá (Pomeri). Os jovens e adolescentes internos puderam rezar
diante da Cruz dos Jovens e do Ícone de Nossa Senhora, na manhã deste sábado
(7), depois de passarem pela Paróquia São Sebastião, em Várzea Grande.
Os jovens prepararam o caminho com pétalas de rosas e
receberam os símbolos cantando a canção "Nova Geração", tema da
peregrinação no Brasil. Acompanhado por agentes de pastoral carcerária e funcionários do
Centro Socioeducativo, dom Milton Santos, arcebispo de Cuiabá, fez uma reflexão
sobre o valor da Cruz e do Ícone, convidando-os a se identificarem com o
sofrimento de Cristo na cruz, que conduz à ressurreição. "Não paramos no
sofrimento e na dor. Eles são alavancas para alcançarmos a paz", afirmou.
O arcebispo disse o mesmo para as meninas da outra unidade da instituição, que
também se emocionaram com a visita dos símbolos. Elas enfeitaram a entrada da
unidade com flores de papel. Quando dom Milton perguntou a elas sobre o
significado das flores, uma delas respondeu que representavam "paz, amor,
felicidade e harmonia".
Para que a visita acontecesse houve uma preparação em que
foram apresentados o significado dos símbolos e da própria JMJ, além de
formações que trabalharam conceitos como o limite humano, o respeito, a
cidadania, religião. A Pastoral Carcerária organizou um grupo de oração dentro da instituição chamado "Gotas de
Misericórdia", para aproximar os jovens do espírtito da jornada e da
peregrinação.
Ao todo, o Pomeri abriga 156 jovens, entre 14 e 19 anos,
sendo que a unidade masculina conta com 148 meninos e a unidade feminina abriga
oito meninas. A maioria dos socioeducandos se envolveu com roubos, tráfico de
drogas e até homicídios. O jovem E.P.C. de 17 anos, está no Pomeri há 11 meses
por causa de um assalto. Ele contou para o site Jovens Conectados que nunca
havia ouvido falar sobre os símbolos da JMJ, mas afirmou que ficou muito
emocionado por ver a Cruz e o Ícone. "Nesses momentos, paramos para pensar
sobre nossa vida e o que fizemos. Eu já perdi um parte de minha vida e quero
seguir um novo caminho", relatou o jovem, que quando perguntado o que Deus
significava em sua vida ele respondeu em uma palavra: "perdão".
Coincidentemente, sua mãe, Rosalina Pereira veio visita-lo
no dia da peregrinação. Ela disse que pede todos os dias a intercessão de nossa
senhora pela transformação e libertação de seu filho. "Ninguém deseja um
caminho desse para o filho. Tenho esperança de que ele terá uma vida
nova", disse. Enquanto ouvia o relato emocionado de sua mãe, num gesto
discreto, o jovem enxugou as lágrimas do rosto dela.
O Centro Socioeducativo de Cuiabá conta com uma escola
formal e programas que estimulam as artes, esportes, cursos de serigrafia,
assistente administrativo, garçom, panificação, em parcerias com diversas
entidades educacionais.
De acordo com a diretora da instituição, Maria Giselda da
Silva, a visita dos símbolos da JMJ ao Pomeri foi muito importante para chamar
a atenção dos jovens para a dimensão espiritual do processo socioeducativo.
"É importante que o jovem creia que existe alguém maior, Deus, que cuida
de todos nós e pode mudar a vida de cada um. A fé pode ajudar esse jovem a
acreditar que ele pode ter uma vida diferente", disse.
O padre José Geeurick, conhecido como padre Zeca, que assiste a Pastoral Carcerária na arquidiocese e que visita semanalmente os
internos, esse encontro tem um significado especial. "Para nós, essa
presença da Igreja, a cada semana, com os meninos e as meninas, é justamente
para mostrar para eles que eles são gente, que merecem receber a graça de uma
visita como essa dos símbolos".
A jovem Hedymaura Zanon, de 18 anos, é paroquiana da
Paróquia Sagrada Família, onde fica o Pomeri. Ela nunca havia entrado no Centro
Socioeducativo e ficou muito tocada. "Eu tinha uma impressão muito
diferente de como era aqui dentro. Descobri que são jovens como nós que estão
em busca de uma nova vida e que, como nós, também têm sonhos", contou.
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